Entrevistas

Pode a Medicina caminhar com a espiritualidade?
Entrevista com a Dra. Marlene Nobre

Seis pesquisadores brasileiros e um alemão foram os palestrantes do 1º Congresso Holandês sobre Saúde e Espiritualidade, que aconteceu em 29 e 30 de outubro de 2011, na Universidade Livre de Amsterdã (Holanda). O evento foi organizado pelo Conselho Holandês para o Espiritismo e a Associação Médico-Espírita Internacional.

De acordo com Marlene Nobre, presidente da Associação Médica-Espírita Internacional, a visão espírita da medicina engloba corpo e alma: “A gente não está olhando para o ser humano como um monte de ossos e de carne, mas como um ser imortal. Muitas vezes ele não consegue se exprimir porque não há receptividade no pessoal da saúde. A nossa intenção é justamente trazer à tona que essa alma está sofrendo e procurar resolver dentro do que a terapêutica tem para oferecer."

Nobre explica os objetivos do encontro: “Nós viemos com o coração aberto para vermos se existem colegas nossos ou pessoal da área de saúde que se sintam tocados por esse modo de pensar. Devem existir médicos que não estão satisfeito com o tipo de medicina que é feito até o momento. Queremos saber quantos colegas existem que queiram ouvir mais sobre os assuntos que temos a dizer, fazer pesquisas conosco e nós também escutarmos o que nossos colegas desejam. É simplesmente isso.”

Segundo a médica o assunto é praticamente desconhecido na Europa: "Talvez esse desconhecimento esteja ligado a um tipo de padrão de comportamento. As pessoas não se deixam às vezes atravessar por outras idéias porque na verdade se desinteressaram durante toda a sua vida e não é de um momento para o outro que vão estar alertas para esse problema."

Na opinião de Marlene Nobre, os médicos holandeses são mais secularizados, motivo pelo qual eles estejam mais afastados da religiosidade do que os brasileiros ou os estadunidenses.

Confira a íntegra da entrevista da Internet, no endereço www.rnw.nl/portugues/article/pode-a-medicina-caminhar-com-a-espiritualidade




ENTREVISTA DE JANET DUNCAN COM DRA. MARLENE NOBRE para Jornal Psychic World

O que vem primeiro, o médico ou o espírita?
Antes de tudo eu sou espírita, depois, sou médica. A minha visão do mundo, do universo, do ser humano incluindo a de mim mesma, está impregnada da minha convicção espírita, de modo que é muito natural que em primeiro lugar venha a minha condição de espírita e em segundo a de médica.

Dra. Marlene, eu queria especificar em termos bem claros, você já era espírita, depois é que se tornou médica?
É isso, eu nasci em berço espírita e depois, dentro dessa minha convicção, me formei médica.

Como você vê o espiritismo como um todo dentro da profissão médica?
O espiritismo oferece uma nova constelação de concepções, valores, práticas que dá aos médicos uma visão particular do ser humano e do universo. A base da medicina espírita pode ser sumarizada do seguinte modo: a imortalidade da alma e a ação prioritária desta sobre o corpo físico; a existência dos envelopes ou os corpos sutis através dos quais ela se expressa; o poder co-criador da mente, com a produção dos pensamentos; a ação da mente é não-local e a comunicação do Espírito dá-se por meios extra-sensoriais.

Tem também como princípio a reencarnação que é uma lei natural biológica e que possibilita o desenvolvimento espiritual. A lei de ação e reação deve, portanto, ser respeitada por todo ser humano; é importante o seu entendimento para se compreender melhor a questão da saúde, porque as ações das vidas passadas podem explicar muitas doenças do presente. Nós também vemos no corpo um filtro purificador, que nos permite a evolução.

Enfim, o espiritismo nos dá uma visão do ser integral, não apenas corpo físico, mas também e principalmente alma ou o espírito.

Como médica, você está convencida de que todos os desequilíbrios e as desordens vêm do mundo espiritual, da parte do espírito?
Nós temos como definição que saúde é a perfeita harmonia da alma. Ora, a alma precisa passar por várias existências para se purificar ou se desenvolver. E enquanto nós ainda não tivermos um desenvolvimento espiritual suficiente, nós seremos pessoas doentes que têm problemas e teremos de resolver, no íntimo, essas questões espirituais. Sem dúvida, estou de acordo com a orientação dos espíritos quando eles nos dizem que a maior parte das doenças está ligada à questão da alma ou do espírito. Isto porque quaisquer ações negativas que nós tenhamos produzem doenças nos nossos corpos sutis e consequentemente no nosso corpo físico.

Dra. Marlene, eu gostaria de colocar uma questão crucial para voce. Agora de acordo com o que é comumente chamado de esquizofrenia. Hoje quando alguém ouve vozes, diz que é do mundo espiritual, das pessoas espirituais e são tidos como esquizofrenicos e imediatamente colocados em forte sedativos e frequentemente internados em hospitais de unidades psiquiátricas, eles então são registrados como mentalmente instáveis; uma definição que é frequentemente irreversível e, segundo eles, para o resto de suas vidas. De fato, frequentemente eles não são na verdade, não recebem tratamento, não são oferecidos tratamentos dos quais eles têm períodos indefinidos sobre esses sedativos que fazem estragos. Eu acho isso uma situação intolerável, o que voce diz sobre isso?
Bem, o que ocorre, infelizmente, no curso médico, na prática médica, é algo que realmente não se compreende muito bem. Por quê? Porque a Organização Mundial de Saúde afirma que saúde é o estado de completo bem-estar do ser humano integral: biológico, social, ecológico e espiritual. Então, saúde é definida pela OMS como sendo o equilíbrio entre fenômenos orgânicos, psíquicos, sociais e espirituais. No entanto, na prática, os médicos não consideram todos esses fenômenos, mas tão somente os orgânicos ou biológicos. Podemos perguntar, em qualquer país, o que ensinam as Escolas de Medicina e constataremos que os médicos não são alertados para os problemas psicológicos e espirituais do paciente, eles unicamente restringem-se às reações orgânicas, como se o ser humano fosse reduzido tão sómente ao corpo físico. Embora o Código Internacional de Doenças (CID), que é conhecido no mundo todo, em seu número 10, questão F44.3, contemple a existência dos estados de transe, fazendo a distinção entre os normais, os que acontecem por incorporação ou atuação dos espíritos, dos que são patológicos, provocados por doença, a maioria dos médicos, não leva isso em consideração . No Tratado de Psiquiatria de Kaplan e Sadock, um dos mais consultados pelos psiquiatras, no capítulo dedicado ao estudo das personalidades, há também a distinção entre as personalidades que recebem a atuação de espíritos e a dos outros que são doentes.

A psiquiatria já faz, portanto, a distinção entre o estado de transe normal e o dos psicóticos que seriam anormais ou doentios. Isto, portanto, precisaria ser mais discutido com os colegas, principalmente, com aqueles que não consideram a possibilidade de comunicação dos Espíritos com os encarnados. Por quê? Porque já há a contemplação nos próprios compêndios de medicina a respeito da possiblidade de comunicação dos espíritos. Outro aspecto também é a obra de Carl Gustav Jung que estudou o caso de uma médium que recebia espíritos por incorporação, nas sessões espíritas. Desse modo, constatamos que já existe uma abertura para o estudo do Espírito dentro do curriculum da Psicologia e da própria Medicina. O que ocorre é que a preparação dos médicos ainda é extremamente reducionista e, com essa visão estreita, eles são levados a considerar apenas e tão sómente os fenômenos orgânicos.

Quanto ao exemplo referido por você, nesta entrevista, nós realmente nos constrangemos ou ficamos tristes com a conduta dos colegas que, habitualmente, rotulam todas as pessoas que dizem ouvir vozes como psicóticas e tratam-nas com medicamentos pesados pelo resto de suas vidas. Ficamos penalisados com uma situação como essa, porque existe uma percentagem de pessoas que são consideradas psicóticas por ouvirem espíritos e que, na realidade, são médiums.

Cremos que, na História da Moléstia Atual do paciente, deveriam constar também, além dos sintomas orgânicos, os psicológicos e espirituais, a fim de que pudéssemos fazer a distinção, evitando-se, assim, que os médiuns sejam taxados de psicóticos para o resto de suas vidas. Muitos deles, poderiam encontrar um caminho mais fácil para a cura, a partir do momento em que é diagnosticado um caso de obsessão ou de comunicação espirítica. Acredito que só quando tivermos uma medicina que leva em consideração o ser integral, espírito/corpo é que nós teremos possibilidade de abertura para entender quando se trata de um ou de outro caso.

Como espiritistas e healers, como poderemos construir um melhor e mais forte relacionamento com as profissões médicas em geral se nós pudermos combinar nossos esforços e ajudar casos como os mencionados acima, anteriormente?
Creio que nós espíritas tanto médicos como médiums devemos continuar nosso humilde trabalho, pequenino, mas sincero, procurando atender aqueles que nos procuram. Creio que, à medida que o entendimento da mediunidade, da obsessão, seja considerado por alguns setores da Medicina e da Psicologia nós poderíamos levar maior ajuda aos pacientes. Mas é importante, no momento, continuarmos a fazer nosso trabalho gratuitamente com a intenção de ajudar aqueles que nos procuram ainda que sejam em pequeno número.

Para a quantidade de pessoas que começam a ouvir vozes, qual é o seu conselho?
É difícil de dizer, quando você está em outro país, onde você não conhece muito bem o procedimento, tanto do lado médico quanto do lado espiritual. Mas é preciso ir pouco a pouco oferecendo material de estudo, livros, para que a população se informe também a respeito da obsessão, da possibilidade de se ouvir espíritos e de se tratar de um fenômeno corriqueiro, de um fenômeno banal, ou de um fenômeno comum a muitas criaturas humanas. Então, à medida que a divulgação vai sendo feita, através desses livros, de palestras, de cursos, nós teremos possibilidades de informar mais. Desde que a família ou alguém saiba da possibilidade de que seja mediúnico nós poderemos também criar dispositivos de modo a informar a população onde encontrar os conselhos a respeito disso. Nós sabemos que não é nada fácil, porque em um país como esse que respeitamos tanto, de tantas tradições, de tanto progresso, sabemos que o espiritismo não tem uma penetração grande mas já existe por parte de alguns médicos e psicólogos um entendimento do que seja a mediunidade, no caso mais específico a obsessão. Talvez, então, fosse interessante que houvesse troca de impressões e de idéias entre o movimento espírita ou aquilo que se faz dentro do movimento espírita e os profissionais que já aceitam esse tipo de comunicação e fazer com que aqueles que estão necessitando possam se utilizar desses valores ou dessas terapias que são colocadas em benefício da população.

Na sua experiência, qual é a importância da prece no processo de cura para ambos, da parte do paciente e da parte do médico?
Bem, em uma consulta que nós fizemos ao site da National Institute of Health dos USA, que é o orgão máximo de saúde daquele país, nós verificamos em maio de 2002 a existência de cerca de 24.000 trabalhos científicos publicados em revistas de prestigio, como: The Lancet, JAMA, British Medical Journal, e outras, demostrando o valor da prece. Vemos, portanto, que a prece deixou de ser algo apenas do domínio da religião.
O Dr. Harold Koenig, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, autor de vários trabalhos científicos e de livros, entre os quais, “Religion and Health” (Religião e Saúde), vem demonstrando o valor da Espiritualidade na saúde humana, inclusive a eficácia da prece. Mostrou, por exemplo, que pacientes que estavam sob cuidados intensivos, na Unidade de Terapia Intensiva, e que recebiam preces feitas por um grupo de orações, melhoraram mais rapidamente do que os outros que não tinham essa ajuda e puderam sair mais cedo do hospital. Isso só vem reforçar as nossas tarefas nas Casas Espíritas, porque a prece é colocada como prioritária na nossa vida, não apenas quando estamos doentes mas como um meio de ligação com a divindade, com o Ser supremo. A prece é uma necessidade diária do ser humano.